MEDO. A filha esquecida - Armando Lucas Correa (audiolivro)

 Gabriela Plens

“O medo não leva a lugar algum. O medo só acaba tirando a pouca lucidez que nos resta”.

Julius Sternberg

O medo estremece, cega, nos leva para fora da razão. Faz com que o ser humano tenha atitudes inimagináveis, cujas consequências podem ser avassaladoras...

Foi assim com Amanda, uma judia casada com o cardiologista Julius Sterbnberg e que estava prestes a construir uma família em Berlim, em 1930.

Amanda, dona de uma livraria, cuja alma leitora foi cultivada por seu pai, vê o começo da ruina da sua família quando vê seus livros sendo queimados “uma parte de sua vida ia perecer nas chamas, junto com aqueles livros”.

Os nazistas invadem Berlim e levam o marido de Amanda para um campo de concentração, ela e suas duas pequenas meninas, Viera e Lina buscam pela salvação de suas próprias vidas.

Amanda, uma mulher forte, doce e corajosa, encontra anjos, assim como ela mesmas os denomina, que a ajudam lutar até o fim pela vida de suas filhas. Para Amanda nada mais importava, o corpo já não existia, pois tinha sido entregue ao inimigo, a sua voz era emudecida pelos sons dos horrores que presenciara e, seus sentimentos, abafados pela dor de entregar sua filha Viera em um navio que a levaria ao encontro do tio residente em Cuba.

Julius, anjo e amor eterno de Amanda, havia preparado tudo para que as filhas fossem salvas dos horrores da guerra, mas o medo fez com que a esposa o traísse e não enviasse a pequena Lina para embarcar no navio.

A inocente Lina acompanha sua mama e vive intensamente as crueldades dos homens maus que buscam pela raça perfeita e impura. Lina perde a sua identidade e passa a ser Elise Duval, uma mulher forte, mas que carrega na alma o gosto amargo e inesquecível de uma infância perdida...

“Não há tempo para lembranças...”, disse Elise Duval ao receber a ligação telefônica de uma estranha mulher e sua filha.

O pensamento de Elise Duval acerca da negação das lembranças é, na verdade, uma antítese daquilo que se vive com a leitura da obra de Armando Lucas Correa. Não há como não se lembrar da doce e forte Amanda que luta para que Viera, sua primogênita, tenha certeza de seu eterno amor e fidelidade.

Mesmo desejando saber se Viera estava a salvo e imaginando seu sentimento e angústia por viver sem mama, a trama nos envolve ao ponto de querermos sempre mais, na utopia de que a paz reinaria sobre a Terra.

Ah... Lina, como foste fiel e forte... Como resistiu aos horrores e decidiu seguir em frente, ainda que isso parecesse impossível.

Perdão? Amor? Resiliência? Fidelidade? Esperança?

Uma história inspirada em fatos reais que nos leva a conhecer o mais profundo da nossa própria alma.

A obra é altamente recomendada, uma vez que retrata de forma delicada e sensível o sentimento de uma mulher e a sua entrega genuína às filhas.

“A filha perdida”, traz à tona também, entre as atrocidades, a generosidade e empatia do humano em acolher e arriscar a sua própria vida pelos refugiados. Uma obra que traz uma constante ambivalência entre o perdão e a vingança, o ódio e o amor, a esperança e o medo, entre a generosidade e a estupidez humana. Nos ajuda a perceber que somos todos humanos e iguais perante às leis.

Ler a obra “A filha perdida” com os ouvidos possibilitou uma experiência sensorial diferenciada, na qual fui embargada pela voz da narradora construindo em minha mente imagens repertoriadas por aquilo que já vivi e apreciei.

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CORREA, Armando Lucas. A filha esquecida. Narrado por Isabel Gueron.SP: Editora jangada, 2019.   U-Book. Duração: 9:53:23 . Disponível em: https://www.ubook.com/audiobook/839955/a-filha-esquecida. Acesso em: 5 /11/20

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