ENTRE XÍCARAS E DESTINOS: O PODER TRANSFORMADOR DAS SEGUNDAS CHANCES
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KAWAGUCHI,
Toshikazu. Antes que o café esfrie. (10. ed.) Traduzido por Priscila Catão.– Rio de
Janeiro: Valentina, 2023. 208p.
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Amanda Bachiega
Faculdade de Educação, Unicamp
Caro leitor, se fosse possível voltar
no tempo, quem você gostaria de encontrar numa última e única vez? Nesta obra
os leitores embarcam em uma viagem emocionante ambientada no Japão, mais
especificamente, em um pequeno café em Tóquio que existe há mais de 100 anos: o
Café Funiculì Funiculà. Este lugar é famoso por uma lenda urbana que promete
aos seus clientes a chance de viajar no tempo, transformando-se em um cenário
onde quatro personagens confrontam seus arrependimentos e buscam se reconectar
com o passado.
A proposta do livro é fascinante, os personagens
têm a oportunidade de revisitar momentos do passado, mas com algumas regras, é
claro! Este fenômeno torna a experiência
um verdadeiro teste de coragem e vulnerabilidade. Um aspecto profundo da
narrativa é que, não importa o que você faça no passado, nada vai mudar no
presente. Isso leva o leitor a refletir: porque reviver o passado, se não
podemos alterar o presente?
No primeiro capítulo conhecemos o
motivo do arrependimento de Fumiko, que deseja voltar no tempo para reencontrar
seu ex-namorado e confessar seus sentimentos que não pode expressar quando ele decidira
partir para um outro país. Sua história convida os leitores a explorarem as
complexidades do amor e da comunicação. Kawaguchi ressalta que, embora a viagem
no tempo possa propiciar reencontros, o verdadeiro aprendizado está na
experiência.
É através da narrativa de Fumiko
que conhecemos os outros personagens, como Nagare e sua esposa, que são os
proprietários do café, Kei, além de Kazu, a barista que serve o café que
possibilita as viagens no tempo. Também encontramos alguns clientes frequentes,
como Hirai, Fusagi e uma mulher misteriosa vestida de branco, que simboliza o
maior risco das viagens no tempo, ou seja, a possibilidade de não retornar
antes que o café esfrie, transformando o viajante em um fantasma perdido entre
dimensões. Sua presença intensifica a urgência e o aspecto fantástico da
história.
Cada capítulo traz um novo
viajante e suas motivações, estabelecendo laços entre os personagens. No segundo capítulo, acompanhamos Hirai, que
fugiu da irmã mais nova; a sua a vida inteira é marcada por uma intensa dor de
perda e arrependimento, que a leva a buscar a oportunidade de voltar ao passado
e de maneira adequada se despedir de sua irmã.
O terceiro capítulo foca em
Fusagi e Kohtake, que, no presente, vivem a realidade de paciente e enfermeira
devido ao Alzheimer e à perda de memória. Fusagi anseia por viajar no tempo e
aguarda pacientemente a mulher de branco sair da cadeira, mas é Kohtake quem
aproveita a chance, reencontrando seu marido em uma situação especial onde ele
deseja lhe entregar uma carta. A narrativa que versa sobre eles é repleta de
altos e baixos emocionais, revelando os desafios que enfrentam.
Por fim, no quarto capítulo, a
história se volta para Kei, uma personagem profundamente empática, cuja
principal preocupação é o bem-estar dos outros. Embora ela se dedique a alegrar
a vida de quem está ao seu redor, sua saúde é delicada, e ela enfrenta frequentes
internações hospitalares. Essa fragilidade torna sua situação ainda mais
dramática, especialmente porque Kei está grávida, o que adiciona uma camada de
tensão à sua vida. Durante sua viagem no tempo, ela se depara com dilemas
morais e emocionais, questionando até onde estaria disposta a ir para proteger
aqueles que ama.
Pois bem, o estilo de escrita de
Kawaguchi é suave e poético, e as emoções que ele transmite ressoam na vida
cotidiana dos leitores. Ele provoca reflexão sobre o que faríamos se tivéssemos
a chance de nos reconectar com o passado. À medida que nos envolvemos nessa
experiência, percebemos que as viagens no tempo transformam profundamente os
corações dos personagens, assim como suas vidas. As decisões tomadas, os
destinos alterados e as novas escolhas feitas são frutos desses momentos,
revelando facetas e informações sobre as pessoas que os viajantes desejam
encontrar. Essa é a lição que os viajantes aprendem ao final.
"Antes que o café esfrie"
não é apenas uma narrativa sobre viagens no tempo; é uma poderosa reflexão
sobre a condição humana, os laços que formamos e as escolhas que fazemos. Este
livro afeta os leitores de maneiras inesperadas, deixando espaço para reflexão
e o desejo de reviver os momentos que definem quem somos. Sem dúvida, é uma
leitura que permanece na memória, lembrando-nos da fragilidade e beleza de cada
instante.
Voltar ao passo me faz pensar em tantas coisas. Adorei a sugestão desse livro
ResponderExcluirQuerer mudar o passado é um reflexo direto da transformação que sofremos no presente. Se, em nenhum momento da vida, não tivéssemos o interesse de alterar o passado, poderia significar que não aprendemos nada com nossas decisões.
ResponderExcluirPode-se concluir que, o interesse genuíno em querer mudar o passado é um sinal de evolução no futuro.
O que torna essa discussão paradoxal.
Depois de ler o texto acima, fiquei muito interessado em ler o livro. Obrigado por nós mostrar o caminho Amanda.
ResponderExcluirMichel Leite.
A literatura oriental tem suas delicadezas e o comentário apresentado sobre o livro explicita isso com maestria. Mais um livro na lista de interesse.
ResponderExcluirAdorei a forma que você descreve o livro. Quando li, me deixou num limbo de inimagináveis situações. Parabéns pela resenha
ResponderExcluirUm título no mínimo intrigante. Voltar ao passado e não mudar o presente é como percorrer um caminho e saber que o destino será o mesmo. Porém a descrição dos trechos nos viabiliza conectar com um recomeço que talvez ja experientes ou. Basta chegar ao café e não deixa-lo esfriar 😊
ResponderExcluirUma resenha muito sincera sobre o livro! Está de parabéns! 😊
ResponderExcluirRealmente não sei se eu gostaria de voltar ao passado sem poder mudar nada no presente/futuro, mas essa resenha me fez querer muito ler esse livro.
ResponderExcluirAo fazer essa leitura, fiquei pensativa... somos o que somos através das experiências que tivemos; e baseadas nelas melhoramos o nosso presente e futuro. Sempre há tempo para voltar e se reconciliar com as pessoas que amamos, quando há tempo ainda. Mas será que temos domínio sobre o tempo? Texto interessante que nos faz visitar o passado. Adorei!
ResponderExcluirGostaria de ler esse livro, me deixou curiosa. Quanto sua resenha parabéns, vc é bem M dedicada em tudo que faz
ResponderExcluirAdorei a narrativa do livro. Eu já presenteei um amigo com esse livro e agora fiquei curiosa para lê-lo. Abraço
ResponderExcluirVocê captou com delicadeza a essência do livro, revelando a beleza e a dor de revisitar o passado sem poder mudá-lo, esta análise conduz por uma jornada onde as viagens no tempo não são apenas para ajustar destinos, mas para entender os sentimentos guardados em cada momento perdido. Sua visão poética destacou a fragilidade das nossas escolhas e a força dos laços que nos unem, fazendo com que cada capítulo seja uma inspiração sobre a importância de viver plenamente...
ResponderExcluirSábias palavras…
ResponderExcluirAgora mais do que nunca quero ler este livro. Espero um dia poder te conhecer, me tornei um grande fã seu.
Inspiração, é o que resume suas palavras. Passei ter mais amor pela leitura.
ResponderExcluirObrigada pela sugestão, Amanda. Seu texto, muito bem escrito, me fez revistar as minhas memórias e querer muito abraçar a minha mãe. Como queria apenas mais um abraço, mais um café...
ResponderExcluirNão sei se ainda tenho forças emocionais para a leitura deste livro, mas já anotei aqui e a farei tão breve.