MEMÓRIAS PRÉ-VIVIDAS - Enclausurado - Ian McEwan
Mellina Silva
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McEWAN, Ian. Enclausurado. Tradução: Jório Dauster. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
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Lançado em 2016, o livro Enclausurado de Ian McEwan é uma narrativa diferente ao que se costuma produzir atualmente. Irônica, divertida e chama atenção por ser absurda, pois o seu narrador é um feto na barriga de sua mãe. Ao iniciar a leitura o leitor remete-se ao clássico machadiano “Memórias Póstumas de Brás Cubas” que narra sua história de vida após sua morte. Em Enclausurado o inverso acontece e o feto consegue, por meio de reflexões profundas narrar o presente e vislumbrar um possível futuro.
Trudy, a mãe que carrega o feto sem nome e sem sexo, entra nas últimas semanas de gestação e junto com seu amante Claude (irmão do marido de Trudy) planejam o assassinato de John Cairncros, marido de Trudy, que desde o início do livro vivem separados, a pedido da esposa. O motivo dos amantes quererem assassinar John Cairncros, um poeta fracassado, mas apaixonado pela arte de escrever, é uma mansão que ficará de herança à Trudy avaliada em 7 milhões.
O livro também tece um diálogo com a obra de William Shakespeare: Hamlet. Os personagens centrais da trama fazem alusão aos personagens e aos nomes que aparecem em Hamlet: Trudy se compara à rainha Gertrude, Claude ao tio Claudius de Hamlet e o feto ao próprio Hamlet que se vê em meio a uma trama sem conseguir resolvê-la e faz reflexões sobre a vida e até mesmo sobre a própria morte.
Em meio a toda essa atmosfera de traição e de privação o feto, muito humorado e de vasto conhecimento político e geográfico, conjetura sobre diferentes assuntos atuais, como: gênero, refugiados, religião. O seu conhecimento advém dos programas de rádio que sua mãe escuta durante as madrugadas e manhãs, sem sono. Outra especialidade que o feto evidencia é sua opinião sobre vinhos. Durante toda a gravidez Trudy, que em poucos momentos demonstra afeição pelo bebê, bebe vinhos das melhores safras, o que torna o feto um grande apreciador da bebida.
Um livro para relaxar, para ler e descontrair, ler e rir da absurda situação do feto e de suas reflexões bastante filosóficas sobre a vida, ódio, vingança, culpa, raiva e amor. A grande ênfase do livro é oferecer ao leitor um ponto de vista único e muito íntimo, oportunizando o contato com o pensamento de Trudy e de suas conversas com Claude sobre o plano de matar John. Vale a pena ler e descobrir o final dessa história que se torna mais emocionante quando os amantes colocam o plano em ação.
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