MUNDO FLUTUANTE. Um artista do mundo flutuante - Kazuo Ishiguro
André Campos de Camargo
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ISHIGURO, Kazuo. Um artista do mundo flutuante. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 225 p.
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O livro de Kazuo Ishiguro, Um artista do mundo flutuante, retrata as memórias de Masuji Ono, um renomado artista plástico, em meio as mudanças de um Japão que se reconstruía após a derrota na Segunda Guerra Mundial. Em sua residência, acompanhado de suas duas filhas Setsuko e Noriko e de seu neto Ichiro, Ono recorda diferentes momentos do seu passado.
Quando o artista plástico passa a examinar criticamente suas lembranças e convicções, percebe que as filhas compartilham reservadamente a opinião que o pai é o culpado pelo fracasso dos arranjos do casamento da filha mais nova. Secretamente Ono lança-se em investigações para descobrir o motivo real da recusa da família do antigo noivo de Noriko; ao mesmo tempo procura modos de como intervir positivamente nas negociações de um novo matrimonio que se desdobrava.
No decorrer da busca de informações, Ono vai pouco a pouco entendendo o porquê do fracasso familiar. Com esse movimento passa a avaliar a sua responsabilidade por ter colaborado com a propaganda de guerra nipônica. Esse processo passa assombrá-lo pois ceifou a vida de milhares de jovens, incluindo do seu próprio filho.
Na obra de Ishiguro, Ono não é um homem ressentido com o passado. As aflições se somam com as boas memorias. Mesmo quando rememora criticamente o apoio dado às propostas imperialistas do imperador Hirohito, concomitantemente, ele as mistura com os momentos mágicos vividos como artista em bairros boêmios: “as melhores coisas se juntam durante a noite e desaparecem com a manhã. O que as pessoas chamam de mundo flutuante”.
Em uma narrativa de primeira pessoa, a personagem de Ono mostra-se interessante uma vez que ela realiza um autoexame de consciência contestando o seu passado militarista. Um Artista do Mundo Flutuante é uma obra capaz de fazer pensar a relação entre a Sociedade Civil e o Totalitarismo. Referências que no limite podem servir para pensar o Brasil contemporâneo, uma sociedade ad nausean.
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