O MUNDO SE DESPEDAÇA. Chinua Achebe
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ACHEBE, Chinua. O mundo se despedaça. Trad. Vera Queiroz da Costa e Silva. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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Melina Borges Omitto
Chinua Achebe (1930-2013), autor do romance “O mundo se despedaça”, cuja publicação se deu em mais de quarenta línguas, é considerado o fundador da moderna literatura nigeriana. Teve seu livro publicado pela primeira vez em 1958, dois anos antes da independência de seu país: a Nigéria. Atualmente, é tido como uma das obras mais importantes da literatura africana do século XX.
Através de uma leitura fluida, envolvente e por vezes inquietante, os fatos narrados pelo autor abordam o cotidiano do povo ibo, suas crenças, festas e costumes. Trata também da chegada do homem branco com suas instituições (escola, igreja, leis) e dos confrontos sucedidos durante processo de colonização. Achebe escolhe como cenário para esta narrativa Umuófia, uma aldeia ibo da África e, no decorrer da história, relata aspectos sobre o passado e o presente de Okonkwo, o personagem central da trama.
Filho de Unoka, um homem sem prestígio tribo, tido como preguiçoso e tocador de flauta, Okonkwo buscou tornar-se o oposto daquilo que seu pai representava. Converteu-se num renomado guerreiro e um dos homens mais influentes de Umuófia. Trabalhava na terra, plantando inhames e construiu uma família com várias mulheres e filhos.
Ao longo da narrativa, somos levados a conhecer a rotina e os costumes da tribo. Saliento, que para nós, ocidentais, por vezes, tais costumes causam certo incômodo. Crianças gêmeas, por exemplo, para os ibos eram vistas como aberração e precisavam ser deixadas na floresta para morrer. Algumas atitudes de extrema violência do protagonista para com suas mulheres e filhos também nos desassossegam, como o assassinato de Ikemefuna. O jovem era tido como filho de Okonkwo, entretanto, certa feita, Okonkwo agrediu uma de suas mulheres numa semana que era considerada de paz e como resultado dessa violação, teve que sacrificar Ikemefuna, caso contrário atrairia má sorte para a aldeia. Cabe destaque a forma como Chinua Achebe descreve os fatos sucedidos, o que nos leva, por vezes, a sentir ódio de Okonkwo, outras vezes compaixão, compreendendo as tradições e suas ações frente à sua trajetória de vida.
Com a chegada do homem branco à aldeia, este conflito se torna mais evidente: ao entrar de forma abrupta naquela comunidade, impondo suas leis, instaurando uma escola para ensinar sua própria religião e a polícia como forma de controle, o autor nos leva a indagar sobre quem são os verdadeiros bárbaros. Além disso, perceber que "O mundo é infinito, e aquilo que é bom para uma pessoa pode ser abominável para outra.” (p. 133).
O choque entre as culturas, o modo como os britânicos e africanos concebem algumas crenças e valores, a conversão do primogênito de Okonkwo ao cristianismo e seu impressionante desfecho fazem de “O mundo se despedaça” um livro singular que nos permite confrontar pontos de vista, revendo e ressignificando nossas concepções de oprimido e opressor, dominação e colonização, brancos e negros, cristão e não cristãos.



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