PARA AS POETAS SILENCIADAS. Um teto todo seu - Virginia Woolf
WOOLF, Virginia. Um teto todo seu. Tradução de Vera Ribeiro. Narração de Cristina Flores. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, c2004. 139 p.
Um teto todo seu é um ensaio escrito pela escritora inglesa Virginia Woolf em 1929, que nos permite acompanhar seus pensamentos a respeito das mulheres e da condição de vida delas na época. O audiobook da obra tem uma excelente narração que, apesar de as vezes ser demasiada rápida para os pensamentos atropelados de Woolf, o que exige do ouvinte-leitor uma maior concentração, produz uma imersão impressionante que nos faz pensar que estamos ouvindo de fato a própria Woolf em uma conversa casual com a autora.
Ao refletir sobre as mulheres e a ficção, e sobretudo a condição da mulher inglesa escritora, Woolf questiona as condições de vida dessas mulheres em paralelo com a dos homens, colocando em xeque costumes e pensamentos misóginos de sua época. E apesar de sua obra não tratar sobre o feminismo diretamente, ele está presente implicitamente em seus questionamentos e em sua maneira de compreender como a sociedade da época funcionava.
Um dos momentos mais significativos da obra é quando ela conversa com uma amiga sobre o motivo de as mulheres de suas famílias serem tão pobres e não terem um teto somente delas, referindo-se sobretudo à independência financeira das mulheres da época. E a conclusão que chegam é que seria impossível elas terem tido qualquer oportunidade financeira ou de estudo quando o tempo delas era todo ocupado com a criação dos filhos e os cuidados da casa. Enquanto os homens podiam ser e fazer o que desejavam, cabia às mulheres apenas uma função.
Em outro trecho, Woolf cria uma personagem fictícia chamada Judith Shakespeare, que seria a irmã de William Shakespeare, usando-se desse simples exemplo para demonstrar como as coisas teriam sido diferentes entre os dois irmãos pelo simples fato de William ser homem e Judith uma mulher. Mesmo nascendo na mesma família e com as mesmas condições, Judith seria limitada de suas habilidades e desejos pelas restrições e paradigmas da sociedade patriarcal.
Ao longo do ensaio, Woolf faz um levantamento breve sobre a visão dos homens sobre o sexo feminino a partir da análise de escritores e pesquisadores que escreveram obras a respeito da mulher. E ao realizar essa análise ela conclui que há nesse diálogo um ódio que ela não compreende, já que os homens é que possuem o poder. E que eles falam mais sobre a superioridade do sexo masculino do que de fato das características das mulheres. Um desejo recorrente de se auto afirmar para manter sua posição de poder.
Quando Woolf decide analisar uma obra qualquer escrita por uma mulher da época, ela levanta questões bastante pertinentes sobre a maneira como as mulheres e os homens escrevem, comparando constantemente os dois sexos. Porém, ela não se limita a comparações de habilidades ou competências, já que ela afirma que esse tipo de comparação é extremamente relativo em qualquer situação. Ao invés disso, ela afirma que as mulheres, que são constantemente julgadas, pressionadas e criticadas por tudo o que fazem, precisam lidar com a insegurança, o medo e a raiva e que muitas vezes esses sentimentos são representados em suas obras. E conclui esse capítulo considerando que essa escritora específica que escolheu por acaso analisar não escreve a partir disso, mas escreve como uma mulher, sem se deixar afetar e a partir de seus próprios desejos.
Woolf conclui seu ensaio reforçando a ideia de que o surgimento de gênios está diretamente relacionado com a condição financeira já que, salvo algumas raras exceções, os grandes escritores vieram de universidades. E que as mulheres não são menos competentes ou inferiores aos homens pelo simples fato de serem mulheres, mas por não terem acesso ao conhecimento desde os primórdios. Woolf conclui com uma visão otimista do futuro da condição de vida das mulheres e que é preciso que as escritoras que veem em seguida escrevam o que desejarem para que as poetas que morreram em silêncio possam ter seu talento enfim “corpificado”.




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