UMA BELEZA OCULTA. La melancolia de los feos - Mario Mendoza

 




______________________________________________________________________

 MENDOZA, Mario. “La melancolía de los feos”. Bogotá: Editorial Planeta, 2016.
_____________________________________________________________________

Mónica Guerrero Garay
Faculdade de Educação - Unicamp

Mario Mendoza é um escritor e jornalista colombiano, formado em Letras e Literatura Hispano-americana, cujos livros são protagonizados por pessoas vulneráveis, que no seu dia a dia percorrem a cidade de Bogotá carregando suas angústias e tristezas, sofrendo com a violência que tem marcado a história do país. São personagens que dão vida a narrativas policiais e de ficção.

O livro “La melancolía de los feos” é baseado na história de León Soler, um médico psiquiatra de 40 anos, solteiro, preso na rotina e na obsessão pelo seu trabalho. Com o transcorrer do tempo, Soler tinha deixado para trás suas lembranças de infância, até que um dia, de maneira inesperada, recebe a primeira de três cartas misteriosas com a estampilha de um morcego e o título de “Melancolia”. Sua surpresa fica ainda maior quando as linhas ali escritas relembram um passado obscuro repleto de tristezas.

O remetente é um velho amigo de infância, Alfonso Rivas, um homem caracterizado pela sua baixa estatura, quase de anão, careca e corcunda, no entanto, de uma inteligência e imaginação indescritíveis. Rivas envia a Soler, através de três cartas, um questionamento: de onde viemos e o que somos hoje? Tal questionamento permeia cada capítulo desta novela.

Cada uma das cartas é narrada em duas vozes:  a de Soler, como leitor das cartas e quem ao longo da história manifesta seus sentimentos e o desejo de aguardar uma nova carta que lhe permita reencontrar seu velho amigo, e a de Alfonso Rivas, que ao longo da novela vai descrevendo sua história de vida, submetido às injustiças e intolerância da sociedade que só privilegia aqueles que se encontram no status de beleza e que não aceita nem dá espaço para os diferentes, marginalizados e silenciados.
“¿Están los locos de verdad tan locos como creemos? ¿Por qué una percepción es superior a otra o más correcta que otra? ¿Por qué la democracia no se aplica en los terrenos de la locura? ¿Por qué no respetamos a aquellos que son diferentes, que ven de otra manera, que oyen voces que los otros no oyen?” (p.102).

Estas cartas, enquanto vão mostrando o passado de cada um dos personagens, relembram o momento em que a vida lhes permitiu se conhecerem em meio aos infortúnios que cada um havia vivido e começarem uma amizade sem preconceitos nem julgamentos.  A aventura de compartilhar o gosto pelos comics e super heróis lhes permitia escapar da dura realidade do contexto em que viviam.  

Por outro lado, as cartas também deixam em descoberto os planos de Alfonso de trilhar um novo caminho, longe daquela sociedade que ele achava excludente e egoísta, com a certeza de que “elegimos, modificamos la conducta, inventamos y reivindicamos la vida cada paso. Somos hijos de nuestras ideas, de nuestra voluntad, de los afectos que seleccionamos entre las mil posibilidades que la inmediatez nos brinda. No somos hijos solamente de la materia si no de la conciencia” (p.183)

A história destes dois personagens se desenrola em vários espaços da capital da Colômbia e traz diferentes referências literárias e históricas que fazem com que a leitura se torne instigante e motivadora. Trata-se, com certeza, de um texto que envolve os laços de amizade e solidariedade, embora carregado com a violência e a intolerância da sociedade local.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O PODER DA PALAVRA ILIMITADA

A perversidade do racismo

Passado, presente e a ancestralidade