História Épica de Amor e Imigração
Adichie, N. Chimamanda. Americanah. Traduzido por Julia Romeu. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
Alice Lobo Paes
Círculo Literário da Hípica
Sobre
a autora: Nascida em 15 de setembro de 1977 na Nigéria, Chimamanda morava com
os pais no campus universitário em Nsukka, onde os dois trabalhavam. Mudou-se
para os Estados Unidos aos 19 anos para estudar Comunicação e Ciências
Políticas, fez um mestrado em Escrita Criativa e outro em Estudos Africanos.
Aos 20 anos publicou seu primeiro livro, uma coletânea de poemas (Decisions,
1997). Em 2003 publicou o premiado livro Hibisco Roxo, em 2006 Meio Sol
Amarelo; três anos depois, em 2009, lançou uma coletânea de contos: No seu Pescoço e, finalmente, em 2013 lançou Americanah que a evidenciou no cenário
mundial.
Hoje
a escritora tem seus livros traduzidos para mais de 30 idiomas.
Sobre
o livro: Romance bem escrito e fluido. Bem escrito pois a autora
consegue ir costurando de forma muito rica o tecido do racismo nos Estados Unidos
e na Inglaterra ao narrar as vivências de dois nigerianos, protagonistas do
romance, nos respectivos países. Ela inicia transmitindo o que os nigerianos
pensam desses dois países através dos diálogos que revelam anseios e
expectativas romantizadas e criadas a partir da arte (literatura, música e
cinema) a que são expostos enquanto são jovens na Nigéria. Depois, ao mudar-se
para estudar nos Estados Unidos, ela vai narrando de forma muito objetiva o
dia a dia do imigrante através de situações cotidianas, relacionamentos,
problemas, dúvidas e pensamentos; enfim, a busca por pertencimento e auto aceitação numa sociedade hostil aos imigrantes.
A
insegurança e as idas e vindas em sua crise de identidade fazem com que Ifemelu
se torne uma personagem muito plausível e real. As outras personagens femininas
abordam outros temas significativos ao feminismo, que é um tema recorrente nos
livros da autora.
A
narrativa sobre a experiência de seu par romântico, Obinze, na Inglaterra é
igualmente reveladora sobre a vida do imigrante por lá. Revela o
desencanto do sonho ao deparar-se com a realidade nua e crua das
dificuldades sofridas pelo personagem.
Destaco
alguns pontos que me chamaram atenção no livro...
a) A protagonista, Ifemelu, escreve um blog onde procura identificação, autoimagem e
aceitação. Ela busca sua própria identidade que foi abalada com a mudança de
país;
b) A
relação das mulheres africanas com o cabelo. Ano passado, em Chicago, assisti a
um programa que falava exatamente sobre a importância do penteado para as
mulheres africanas enquanto parte de suas identidades. O programa citava uma
organização que orienta e ensina pais adotivas de crianças negras a cuidarem do
cabelo de seus filhos, tamanha importância dada ao penteado na cultura
africana. Cada povo africano tem sua maneira própria de cuidar e trançar os
cabelos;
c) O
fato de Ifemelu ter demonstrado perplexidade ao ser rotulada de mulher preta
nos Estados Unidos, uma vez que, para ela, ela era uma mulher nigeriana; o que
a definia era a cultura e a língua nigerianas, e não a cor da pele. Nos Estados
Unidos colocam todos de pele negra no mesmo rótulo, independentemente do país
de onde a pessoa se origine. Minha filha, que estava na Dakota do Sul por conta de seu
mestrado, ao preencher a ficha da universidade se autodenominou branca e foi
contestada. Disseram que ela não era branca. Para ela foi um choque, pois
sempre foi considerada branca no Brasil. Ela não soube como se denominar, pois
não é afrodescendente, nem hispânica, nem oriental, que eram as outras opções
possíveis no questionário.
d) O
tema do racismo presente nos diálogos inteligentemente construídos pela
escritora; ela aborda o tema do racismo inferido nos diálogos dos diferentes
personagens e dos diferentes grupos sociais, tanto nos EUA quanto na
Inglaterra, escancarando de forma muito sutil os discursos que permeiam a
relação inter-racial. Ela não acusa abertamente a sociedade, mas o leitor vai se
sentindo pouco a pouco incomodado com as entrelinhas, com as mensagens veladas
que os imigrantes vivenciam no dia a dia.
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