Olhos d'Água - Conceição Evaristo

 


EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas Editora/Fundação Biblioteca Nacional, 2014. 

 Kiyu Maria de Queiroz Makishima 

Círculo Literário da Hípica

Para essa primeira leitura, entre tantos livros interessantes, escolhi "Olhos D 'Água" da escritora Conceição Evaristo, pois ainda não havia lido nenhum texto dela e queria conhecer essa autora tão admirada. 

Aprendi que ela nasceu em uma favela de Belo Horizonte e teve uma infância pobre e difícil. Trabalhou como empregada doméstica, mas conseguiu estudar, formar-se e é doutora em literatura comparada. Seus textos têm como tema principal a vida de mulheres negras e pobres. 

 Neste livro, 'Olhos D'Água', ela narra 15 histórias. 

Na primeira, que dá título ao livro, conta, em primeira pessoa, a dúvida que teve sobre a cor dos olhos de sua mãe. Ela, então, reflete sobre sua própria vida e visita memórias da infância. Para esclarecer sua dúvida, ela faz uma viagem de retorno à cidade natal para ir ao encontro da mãe. Descobre a cor, a serenidade e a profundidade daqueles olhos. E depois, chega o tempo de descobrir a cor dos olhos de sua própria filha e se surpreende ao perceber que, também a filha, busca saber a cor de seus olhos. Um ciclo que se renova. O texto é muito bonito, potente e poético que evidencia a força da ligação inquebrantável do amor e do mútuo reconhecimento que permanece entre gerações. 

 As outras histórias do livro são também contadas com essa mesma escrita bonita, fluida e poética. Fácil de ler. Fácil de entender. É uma escrita que se lê rápido e que permite nos aproximarmos da realidade difícil, precária e assustadora de pessoas que vivem com recursos mínimos. 

Cada história traz uma visão da vida dura e crua de algumas mulheres e crianças. Uma vida simples, tão comum e tão repetida que faz da violência e da brutalidade algo muito trivial e natural. Mas é uma vida que também tem suas belezas e alegrias, momentos de sonhos e esperança, que permitem enganar o sofrimento trazendo à tona a humanidade escondida. 

Cada personagem tem um olhar carinhoso para com seu viver e uma força interior que a autora consegue ressaltar. 

Cada texto nos mostra vidas que são um misto de fragilidade e força, indulgência e castigo, de compaixão e raiva. Ao mesmo tempo, vidas vividas com suavidade e rudeza, delicadeza e brutalidade. 

Para quem olha de fora é difícil compreender e aceitar essas situações em que vidas são apagadas e riscadas de forma tão corriqueira, como algo muito normal, muito banal.

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