Da insegurança ao orgulho: romances LGBT’s.
Quindlen, Kelly. A jogada do amor. Tradução: Laura Pohl. Rio de Janeiro: Globo Alt, 2022. 285p.
Gabriele Fernanda Custódio.
Faculdade de Educação, Unicamp.
A jogada do amor (tradução de She drives me crazy) é uma comédia romântica adolescente escrita pela professora e participante do conselho de liderança da ONU, atuante com pais de filhos LGBT, Kelly Quindlen. Trata-se de um livro piegas, juvenil e, se me cabe, allosexual, onde assuntos mais profundos são pouco explorados e a atração entre as personagens nasce de repente. Apesar dos pesares, pensei que dar uma oportunidade a uma comédia romântica queer seria uma boa forma de me redimir por passar a adolescência lendo romances héteros e hoje namorar uma garota.
A trama acompanha o último ano no Ensino Médio de Scottie Zajac, uma garota amorosa, inteligente, independente e ótima jogadora de basquete, mas com a autoconfiança abalada pelo término recente de seu primeiro amor com Tally, que se mudou para a cidade vizinha procurando visibilidade e popularidade. Scottie está abalada com o recente encontro com sua ex-namorada nos jogos da pré-temporada quando bate no carro de sua "arqui-inimiga" Irene Abraham, indiana, reservada e líder de torcida, com direito a toda popularidade e destaque do cargo.
O livro traz grandes quebras de expectativas quanto a Irene, nos fazendo descobrir junto da protagonista quão doce, carinhosa, inteligente e cheia de sonhos a líder de torcida realmente é. Dar carona para Irene traz muita atenção bem vinda de sua ex-namorada para Scottie, fazendo-a sugerir um acordo no qual ajudaria Irene com o pagamento do conserto de seu carro se a mesma fingir ser sua namorada. Deus sabe o sorriso que abri quando Irene disse "- Então você quer me pagar pra ser sua amiga?" e Scottie, com o coração disparado debaixo do paletó respondeu: "- Eu quero te pagar pra ser minha namorada". (p.87)
Observar as duas se apaixonando aos poucos é de aquecer o coração, mas, por outro lado, o apego e obsessão de Scottie em relação a sua ex é frustrante e importante para a trama na mesma medida, fazendo com que o livro toque em assuntos muito importantes e atuais, relacionados a manutenção de relacionamentos saudáveis e "com conversas difíceis", sejam eles na esfera familiar, romântica ou de amizade. Nossa protagonista percebe que "antes de se preocupar com quem está no banco de carona, você precisa aprender a dirigir" (p.243) e percebemos que o livro versa sobre o luto pelo término do relacionamento passado, cura dos sentimentos de insegurança e vergonha que estes infligem à personagem e a importância do amor próprio antes de tudo.
A existência desse livro por si só me pareceu muito importante. A homossexualidade das garotas não é ignorada como tabu, mas passa longe de ser o principal problema da trama, fugindo do estereótipo de sofrimento e luta constante da vida queer. O apoio das famílias e amigos de ambas traz esperança de um mundo melhor e vontade de existir e deixar as pessoas existirem como elas mesmas.
A jogada do amor é uma leitura fácil e muito divertida, cumprindo com sua proposta para o público jovem-adulto, aquecendo e alegrando o coração dos leitores quando Scottie finalmente convida Irene para sair com um grande gesto romântico e 'cafona'.
Se o leitor busca um escape da realidade estressante do cotidiano, conforto e bem-estar consigo mesmo e esperança de um mundo mais inclusivo e menos preconceituoso com a minoria LGBT, A jogada do amor é o romance ficcional atual certo.
Muito bom. Gostei e parabenizo a autora do comentário.
ResponderExcluirEu não conhecia a obra, Gabi, muito obrigada! Me parece que a autora brinca com o leitor, especialmente nas quebras de expectativas. Adorei!!! Já inclui na minha listinha!
ResponderExcluir